No Brasil, é quase impossível mesmo para o mais antiestatista, tolerante e muderno liberal escapar de ser identificado como "fascista" por um socialista médio após (no máximo) trinta minutos de debate ideológico; no mais das vezes, basta uma defesa estritamente contratualista da chamada "legalidade burguesa" para que o sujeito se transforme em um Mussolini ressurreto. Mas essa liberalidade semântico-política não é tão nossa quanto a jabuticaba: igualado quase sempre a nazismo, o termo "fascismo" costuma significar pouco mais do que uma espécie de Mal Absoluto - o que confere a ele um caráter insultuoso disputado por todo o espectro das idéias sobre o governo das gentes. Em artigo para a edição mais recente da revista Reason, Michael C. Moynihan analisa dois recentes best-sellers americanos (um de esquerda, outro de direita) e nos permite concluir - parafraseando Clemenceau - que fascismo pode até ser assunto sério demais para ser deixado nas mãos de historiadores - mas abandoná-lo à pena do jornalismo de opinião pode ser (como quase sempre) ainda pior.