sábado, 25 de outubro de 2008

Água no seu chopp

Em Santa Catarina, um restaurante considera a espuma do chopp como parte fundamental da bebida, incluindo assim o seu volume no cálculo do total de cada tulipa pedida pelos clientes. Como sabem mesmo os juice drinkers como eu, decisão desse tipo é sempre polêmica entre os consumidores do etílico: há quem faça questão do popular colarinho e quem o abomine absolutamente, considerando a coisa como um incômodo no copo e na conta; de toda forma, preferências assim deveriam ser matéria apenas para debates alegres e inflamados em oportunas mesas de bar, com cada indivíduo exercendo o seu direito de preferir a bebida como bem entender - e cada estabelecimento podendo também oferecer o que achar mais conveniente, sendo ou não punido pela clientela no caso de uma escolha equivocada. Mas o nosso bar catarinense não teve essa sorte: vítima do INMETRO, foi multado pela decisão que tomou - e só conseguiu anular a multa através de uma desembargadora que aderiu absolutamente à lógica do próprio órgão, considerando que há um chopp (com colarinho, no caso) correto e um errrado, aparentemente escorada pelas palavras de eminentes técnicos no assunto.

Pois então é isso: agora até no seu chopp o Estado dará uma palavrinha - e quem sabe ainda não proibimos absolutamente a existência dessa ou daquela variante da bebida, provavelmente a repudiada pelos doutores na questão. Em caso quase tragicômico, temos uma diferença fundamental entre a sociedade liberal e um Estado intervencionista: no lugar da livre escolha dos consumidores no mercado, técnicos a decidir o que determinado indivíduo pode ou não oferecer para consumo - e isso em situação absolutamente alheia a questões de vigilância sanitária, que poderiam (quem sabe...) até justificar com um mínimo de razoabilidade um intervencionismo estatal nessa seara.

Um momento literário para finalizar. Na sua clássica novela distópica 1984, George Orwell já (o livro é de 1949) escrevia cena na qual um idoso tentava comprar cerveja pelas antigas e aceitas medidas inglesas, sendo surpreendido e repreendido por um atônito barman: o velho não sabia, mas o Big Brother já havia há tempos definido padrão outro para a venda da bebida...