quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Minority Report cubano

A organização não-governamental espanhola COLEGAS denunciou no começo desse mês mais um episódio no recrudescimento da perseguição a homossexuais em Cuba: repercutindo nota da cubana Fundação Reinaldo Arenas, o grupo espanhol acusa a ditadura castrista de ter condenado recentemente seis gays da ilha sob pretextos diversos, incluindo aí a premonitória acusação de "criminoso em potencial". Contando com dois costureiros que trabalhavam sem licença e um rapaz sem ocupação estável que aparentemente vivia de se "relacionar com estrangeiros", o grupo de detidos parece ter em comum algo mais além da orientação sexual: segundo as organizações locais, todos teriam sido perseguidos por não trabalharem "para o Estado" - sempre um problema seríssimo para os regimes comunistas, que têm no caráter de empregador exclusivo (ou quase, no caso da Cuba atual) do Estado uma de suas principais formas de coação e repressão de comportamentos indesejáveis*.

* -Sobre a relação entre pluralidade de proprietários dos meios de produção e liberdades intelectuais, ver O Caminho da Servidão, de Friederich Hayek. Um exemplo cubano: Reinaldo Arenas, marido da famosa blogueira dissidente Yoani Sanchez, foi jornalista até 1988 - quando teria sido demitido do jornal oficial Juventud Rebelde por escrever textos "inadequados à linha" da publicação. Vetado na única imprensa (a estatal) que emprega no país, Arenas hoje trabalha como professor de espanhol e guia para turistas - como o provável michê preso pelo governo, sobrevive à margem da economia legal e "se relacionando com estrangeiros".

Nota: Pensei na referência a Minority Report assim que soube do caso, o que provavelmente se daria com qualquer um que goste de ficção científica como eu - ou com sujeito que pelo menos conheça o filme arrasa-quarteirão do Tom Cruise; certamente por conta dessa obviedade quase automática(robótica?hehe), descobri logo que a sacada já existe em pelo menos um outro blog por aí, ferindo um tanto cruelmente a literatice do dia...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Halloween russo

Na última sexta-feira de outubro, 50 manifestantes foram detidos pelas autoridades russas enquanto tentavam protestar em Moscou pelo cumprimento de garantia democrática prevista na Constituição pós-comunista daquele país - a escolha da data é referência ao artigo 31 do documento, que trata exatamente (e irônica e tristemente, dado o ocorrido) do direito a livre reunião e protesto na Rússia, princípio que seria cobrado no evento coibido.
Um dos detidos foi Eduard Limonov, fundador de um certo Partido Nacional-Bolchevique cuja ideologia mistura nazismo, stalinismo, imperialismo e antiamericanismo; apesar da salada totalitária, até ele merecia o direito de se manifestar livremente em praça pública - mais ainda quando o faria defendendo(circunstancialmente apenas, não duvido; que os opositores apontem a contradição) Carta de inspiração liberal que é fundamentalmente oposta às próprias idéias professadas pelo exótico líder partidário.