Na primeira metade do século XX, duas distopias inglesas apresentaram visões muito diferentes da relação entre liberdade e sexo: em Admirável Mundo Novo(1932), o Estado censor e ultraplanejado alimenta um erotismo orgiástico, uma sensualidade desprovida tanto de função reprodutiva quanto de qualquer vestígio amoroso; em 1984(1949), por outro lado, o totalitarismo é associado explicitamente à castração - e o simples intercurso sexual ganha contornos libertários, seja através da fingida adesão à castidade de Julia ou na frouxa esperança depositada por Smith nos proles algo licenciosos. A questão é interessante e pode render bons debates; nesse sentido, talvez seja importante acompanharmos as observações da antropóloga iraniano-americana Pardis Mahdavi sobre o atual estado da moral sexual na República Islâmica do Irã - país que ainda apedreja adúlteras e proíbe manicures em nome de Deus. Em resenha do livro, a pesquisadora Laura Secor faz as perguntas pertinentes: qual é o real potencial subversivo de um underground profundamente sexualizado em uma sociedade reprimida? O quanto sexo casual e adultério podem significar desafio à autoridade e emancipação feminina - e o quanto esse comportamento apenas representa falta de perspectivas e adolescimento tardio, fenômenos hoje tão comuns em parte da juventude ocidental? Nesses primeiros anos do século XXI, questões como essa ainda precisam ser respondidas - ou ao menos perguntadas.