Qualquer um que já tenha suportado disciplinas de educação em universidade brasileira - ou que tenha cursado Pedagogia propriamente, valei-me o pai - sabe bem que o alfabetizador marxista Paulo Freire(1921-1997) domina absolutamente o campo, aparecendo como um espectro a governar imperioso os destinos dos infelizes vivos submetidos(por obrigação acadêmica ou vestibular mais acessível, não raramente) aos cuidados das suas nem sempre letradas sacerdotisas. Nesses ambientes fantasmáticos, cada e toda palavra da terrestre prosa freireana ganha status transcendente, através de dolorosas operações alquímicas que transformam em pérola embasbacante - o olhar da sacerdotisa é sempre de perpétua epifania - platitudes setentistas que caberiam, se tanto, em About Me de mocinha orkutiana (ao lado de um falso e edificante Shakespeare ou, melhor ainda, Veríssimo filho, tanto faz se verdadeiro) ou rodapé de agenda sindicalista. Pairando sobre a ciência séria(oh!), o freireanismo é o marxismo dos pobres, o gnosticismo roto relegado pela vanguarda do pensamento revolucionário às sãogonçalenses (estabeleça a equivalência para a sua aldeia) várias que se mostram contentes em desempenhar o papel a elas destinado na glosa revolucionária, aguardando animadas o dia em que poderão organizar semanas da consciência negra nos educandários da burguesia racista, excludente e mão aberta. Que tudo isso seja brasílico, só constatação desassombrada; saber do fenômeno também na terra do Obama, por outro lado, é de despertar os maiores decadentismos no mais plácido Pangloss - e é exatamente essa nada auspiciosa informação que trazemos aqui para o nosso eventual leitor, através de excelente texto da sempre impressionante City Journal, a melhor revista high brow em língua inglesa desde sabe-se lá que prisca e idealizada era.
No texto em questão, o sempre solar articulista Sol Stern acompanha rapidamente a importância pregressa e atual de Freire nos cursos norte-americanos de educação e ataca competentemente a tosquíssima teoria(?) pedagógica(??) do comunista pernambucano, mostrando que ela é, antes de tudo - ou mesmo tão e somente - uma prática de doutrinação intelectual, no sentido mais vil e desonesto que a expressão pode comportar. Ao apontar(nos anos 60 e 70 do século passado, já sem originalidade qualquer) um caráter inequivocamente classista na educação das modernas sociedades capitalistas, Freire não faz outra coisa que não pregar a sua substituição por um modelo supostamente crítico, que pretende formar uma consciência autônoma em oposição à imposição da cultura hegemônica capitalista via escolas e universidades - ou seja, é um projeto político disfarçado(ou nem isso: toda educação é política) de processo educacional libertador, libertário. Não por acaso, os professores que se dedicam a aplicá-lo - Stern é pródigo em exemplos, o Brasil mais ainda - acabam sempre recaindo, com mais ou menos rapapés e pretensões científicas, em proselitismo que não vai além de um panfletário socialism(o que quer que isso ainda signifique) is good, capitalism is bad. Qual a diferença disso para a educação burguesa? Ora, é óbvio: socialism is good, capitalism is bad - logo, ensinar isso para um aluno é bom, ensinar o contrário (ou uma terceira ou quarta alternativa) é ruim; e isso são Freire, freireanos e a maior contribuição brasileira à educação estadounidense. Como diria um pedagogo sem preconceito linguístico, É NÓIS!