Em 1921, o jogador de futebol e hóquei sobre o gelo Nikolai Starostin ajudou a fundar o embrião daquilo que 13 anos mais tarde se tornaria o Spartak Moscou, ainda hoje um dos mais importantes e populares clubes esportivos da Rússia. Destacando-se desde cedo por sua habilidade, Starostin liderou o Spartak numa série de sucessos que culminaram em dois bicampeonatos (1938/1939) daqueles que eram os mais importantes torneios de futebol da potência comunista, o Campeonato e a Copa da URSS. Tendo conquistado esses e outros títulos e sendo idolatrado como um herói popular por trabalhadores distantes da máquina do Partido, Nikolai parecia desfrutar de especial segurança em uma nação cada vez mais dominada pelo terror político; mas em 1942, ele, seus três irmãos (também atletas do Spartak) e outros jogadores foram presos sob ordens diretas do temido Chefe da KGB Laurenti Beria - se juntando à já longa lista de reacionários acusados de complô para assassinar o ditador Stalin. Após dois anos de interrogatório na infame prisão de Lubyanka, as acusações acabaram sendo retiradas - o que não impediu Starostin de ser condenado a dez anos de frio e horror na Sibéria por supostamente "incutir sentimentos burgueses no esporte soviético". Por trás da farsa e das prisões, no entanto, se escondia apenas o fanatismo futebolístico de um torcedor poderoso demais: o carniceiro Beria era Presidente de Honra do Dinamo Moscou, time controlado pela polícia secreta que ele liderava - e que havia sido derrotado duas vezes (em uma mesma partida) pelo Spartak na semifinal da Copa da URSS de 1939, com o seu sinistro dirigente como testemunha nas tribunas de honra do estádio. Na ocasião, o Dinamo perdeu uma histórica invencibilidade em sua casa; três anos depois, o precoce boleiro-dirigente que comandou o seu algoz quase perdeu a vida pela audácia de jogar futebol contra monstros.
Essa e outras histórias estão no documentário Communism and Football, uma produção de 2006 da BBC que está sendo exibida pelo nosso canal a cabo Sportv. Acabo de assisti-lo e não sei quando passará novamente, mas o programa é bom o suficiente para justificar uma atenção diária dos nossos leitores à grade daquele que hoje sim merece ser chamado de "canal campeão".
Essa e outras histórias estão no documentário Communism and Football, uma produção de 2006 da BBC que está sendo exibida pelo nosso canal a cabo Sportv. Acabo de assisti-lo e não sei quando passará novamente, mas o programa é bom o suficiente para justificar uma atenção diária dos nossos leitores à grade daquele que hoje sim merece ser chamado de "canal campeão".