segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

We

Dono de uma kebaberia situada em frente ao famoso e histórico Hotel Soviético, o russo Aleksander Vanin decidiu renomear seu bem quisto estabelecimento moscovita a partir de uma simples oposição geográfica, aproveitando raciocínio então já consagrado entre os frequentadores habituais do local: adotando popular apelido cunhado pela clientela, Vanin há cerca de três meses passou a ser o feliz proprietário de um restaurante Antissoviético, brincadeira aparentemente inocente a misturar geografia com (imaginária) dissidência política. E foi a partir daí que seus problemas começaram, em mais um episódio da combinação entre fascismo, patriotismo e nostalgia dos tempos soviéticos que parece o elemento mais característico dessa já tristemente longeva Rússia putinesca.

Curiosidade nem tão lateral e desimportante assim: o nome da milícia coletivista ("Nashi", 'Nosso' em russo) que aparece atormentando um jornalista na crônica do Pompeu de Toledo é pronome possessivo da primeira pessoa do plural, "Nós" - simplesmente o título da clássica distopia totalitária concluída em 1921 por Yevgeny Zamiatin, em parte uma precoce crítica do regime comunista cujos horrores a Rússia atual tanto se esforça para relativizar.